sábado, 2 de janeiro de 2016

Monumento Amilcar de Castro: Símbolo Cívico e Bicentenário da Inconfidência e à IV Constituinte Mineira


                        
Legenda: Artista: Amilcar de Castro
 Data: 1988
Local: Praça Carlos Chagas – Praça da Assembleia.
                             Foto: acervo próprio.

O monumento neoconcreto[1] Amilcar de Castro, considerado também como Símbolo Cívico, insere-se na Praça Carlos Chagas, conhecida popularmente como Praça da Assembleia, desde o início do processo da democratização do Brasil, após a regime militar, nos anos 1990.
Essa praça mede 33.700 m²[2] e ocupa ampla área do bairro Santo Agostinho, entre a Avenida Olegário Maciel e as Ruas Rodrigues Caldas e Martim de Carvalho. A Praça acolhe o Palácio da Inconfidência, sede do Poder Legislativo Mineiro, e foi cercada por jardins projetados por Burle Marx.
No seu centro, está a Igreja Nossa Senhora de Fátima; já no entorno, um grupo de esculturas composto por formas humanas dos políticos Tancredo Neves, Ulisses Guimarães e Teotônio Vilela, como representação do movimento Diretas Já! 
No último 06 de outubro de 2015[3], a Praça foi oficialmente inaugurada, após obras de requalificação que integram ações do projeto Assembleia de Todos. A reforma levou em consideração as demandas dos moradores do entorno. Assim, novo paisagismo, fontes luminosas, playgrounds e a inclusão de placas no monumento em homenagem aos doadores de órgãos e tecidos.
Esse monumento é composto por um grupo de duas estátuas de bronze e um piso de placas de aço, no qual estão escritos os nomes dos doadores. A obra é criação do artista plástico Leo Santana e está instalada no Jardim do Hall das Bandeiras. 

         A obra Símbolo Cívico refere-se à Constituição Mineira de 1989, como a IV Constituinte Mineira, esclarecendo Teixeira; Oliveira,
por ter sido esta constituição modelada pelos atos constitucionais da época, decidiu-se homenagear as demais constituições, o que justifica o fato do monumento referir-se à Constituição de 1989 como IV Constituinte Mineira, (TEIXEIRA; OLIVEIRA, 2008, p.89).

         Assim, para a criação da obra, Amilcar de Castro procurou estabelecer uma relação com o entorno e com a casa Legislativa que é a casa do exercício efetivo da política de Minas Gerais.
         Ao criar a obra, o artista inspirou-se na bandeira de Minas, conforme Pedro Castro[4], filho do artista. A forma de triângulo no interior da obra inspirou-se no estandarte mineiro e corresponde ao símbolo de Minas; e o círculo representa a aliança entre o Legislativo e a vontade do povo. Teixeira; Oliveira, (2008, p. 89) completam:
a escultura simboliza a passagem à representação popular dada pelo triângulo aberto, enquanto o círculo, em forma de aro, lembra a aliança entre Sociedade e Legislativo, fonte e síntese da vontade geral.

         Assim, a obra como esclarece Teixeira; Oliveira (2008, p. 89),
foi totalmente construída em aço. Com forma circular e 6 metros de diâmetro, em chapa de duas polegadas, a obra constitui-se num círculo vazado por um triângulo que desce ao chão e tem o vértice superior apontado para o Palácio da Inconfidência. Ocupa um espaço de aproximadamente 30 metros quadrados e tem por objetivo promover a valorização do legislativo mineiro e da constituinte (TEIXEIRA; OLIVEIRA, 2008 p.89).
          
         A escultura Símbolo Cívico de Amilcar de Castro, partindo de um esquema formal abstrato, um círculo e um triângulo, como interpreta Pedrosa (1998, p. 363), “permite as variantes formais mais surpreendentes, ela convida o espectador a manejar sua ideia, que se mantém fiel à forma matriz, no seu diálogo ou monodiálogo com o plano”. O autor relata ainda que Amilcar de Castro chegou a romper as limitações situacionais da escultura para transformar suas realizações em objetos voltados para si mesmo, independente de pedestal ou mesmo de base. Nas palavras de Pedrosa: “a fatídica limitação de toda escultura representativa”. As obras de Amilcar de Castro convidam para a reflexão argumentando que
o que há de específico na sua demarché operacional é que não parte de um apriori mas de um desenho vago no papel para depois, em face do quadrado, círculo ou retângulo, abri-lo, desdobrá-lo; ele não constrói violentamente; ou não constrói na realidade. Obedece a um todo misterioso que não está para ele em nemhum apriori. Uma vez o plano ferido ou talhado ou aberto, o espaço que daí se cria e o conduz [...] em busca da terceira dimensão, (PEDROSA, 1999, p. 366).


Amilcar de Castro busca encontrar novas dimensões na relação dos seus planos com os espaços vazios, tornando, supreendentemente, um peso natural do próprio material que utiliza em leveza visual em função de suas dobras e recortes. Conforme Gomes (2000), o fator de unificação na obra do Amilcar de Castro se dá pelo seu equilíbrio simétrico e pelos pesos visuais bem distribuídos. De harmonia plena, os contrastes entre linhas retas e curvas, espaços abertos e fechados, fazem da escultura um símbolo de grande expressividade plástica.




[1] Movimento do final  década de cinquenta (1959-1961) que defendia a liberdade de experimentação, o retorno às intenções expressivas e o resgate da subjetividade.
[2] Dados sobre o dimensão do espaço da praça disponível em: http://www.almg.gov.br/acompanhe/noticias/arquivos/2014/07/03_reforma_praca_carlos_chagas_beneficios.html Acesso em 01/05/2015.
[3] Informações retiradas do Jornal da Cidade, 16 a 22 de outubro de 2015. Ano LVII. N. 2.703
[4] Vídeo com o relato de Pedro Castro, filho do artista plástico Amilcar de Castro.  <http://artesplasticasgrupo7203.blogspot.com.br/2011_07_01_archive.html>, postado em 09 jul. 2011.

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