sábado, 2 de janeiro de 2016

Monumento à Terra de Minas


                                                               Legenda:
                                                                         Artista: Júlio Starace
                                                                               Data: 1930
                                                                       Local: Praça da Estação
                                              Fonte: ww.asminasgerais.com.br Acesso em: 09/11/2014.  
                                                                                                  
         O Monumento à Terra Mineira foi instalado em 1930, na Praça Rui Barbosa, ou Praça da Estação. De acordo com Santos (1999 p. 14), “Belo Horizonte era pequena e muito tranquila e o local era estratégico, de frente para a Estação Ferroviária, principal acesso para a cidade.”
         Segundo Faria (2006 p.300), “o papel marginal que a Praça Rui Barbosa tem hoje em relação a cidade de Belo Horizonte como um todo não permite perceber sua centralidade e importância nas décadas de 1920 e 1930”. Faria (2006) descreve que a Comissão da Capital havia dado destaque à Praça pelo fato de considerar este local, o portal da cidade e de ligação, por via férrea, de Belo Horizonte com o resto do País.
         A praça foi assim escolhida pelo então presidente do Estado, Antônio Carlos Ribeiro de Andrade, para acolher o monumento que simbolizava a grandeza de Minas e de sua gente.
         O monumento Terra Mineira é de autoria de Júlio Startace. Conforme Santos (1999), a altura a que o monumento foi alçado criava um contraste com as edificações baixas, causando a impressão de sobrevoo. Certamente, uma visão de impacto para quem chegava.
         A figura exibe um corpo de dimensões maiores que a de um corpo humano e de grande contração muscular. O braço estirado, sustentando o mastro da bandeira, inspira força, bravura. Localizado e voltado para a estação, dando boas vindas aos que chegam e demonstrando o caráter “indômito” dos mineiros.
         Para Santos (1999 p. 14), “a estátua deveria representar, para o viajante que chega, a imagem de um destemor triunfal, condizente com aqueles tempos nacionalistas”. Sob a figura, a inscrição “MONTANI SEMPER LIBERI”[1]. Erguido em homenagem aos heróis e mártires mineiros, conta com uma estátua de bronze, imagem de um homem nu, com uma bandeira e uma base em granito, com placas que fazem menção escrita aos homenageados, dispostas em volta do pedestal.
         São quatro quadros em alto relevo. Na parte da frente, a bandeira de Bruzza Spinosa, mostrando os primórdios heroicos da colonização do Estado; na lateral direita, o martírio de Tiradentes; na lateral esquerda, o martírio de Felipe dos Santos, e na face posterior, Fernão Paes Leme, o caçador das esmeraldas.
         Além disso, retrata, em cenas, momentos significativos dos homenageados. Conforme Santos (1994, p. 14 ), “o monumento anuncia as fronteiras ou faz recordar aos nativos que partem, retornam ou por ali vagam”.
         Completa Faria (2006 p. 3002): “um ideal que deveria estar inscrito na própria alma do mineiro”. Uma placa de bronze dedica o monumento aos: “HEROIS E MARTYRES MINEIROS QUE, NO SACRIFÍCIO PELA CONQUISTA DO TERRITÓRIO E DA LIBERDADE, VERTERAM O SEU SANGUE EM PROL DA FUNDAÇÃO E DO ENGRANDECIMENTO DA PÁTRIA”.
         Mas, de acordo com Santos (1999), a figura exuberante e nua exibida em pedra, numa cidade ainda pacata, causou reações diversas. Muitos expressavam, com veemência, sua desaprovação; outros justificavam sua nudez, dizendo que esta representava o despojamento, o estado de purificação necessária à defesa dos valores elevados. Mas a intensidade da polêmica se relacionava a um detalhe, a ponta da bandeira que cobre o sexo. Como descreve Santos, um pormenor que atrai o olhar de quem observa.
O pedaço de tecido escondendo o sexo tem o poder de ressaltá-lo: um estímulo à curiosidade e à especulação (que forma se revelaria, se um vasto vendaval deslocasse a bandeira? Que mistério se descortinaria, ou melhor, se desbandeiraria? Mas o detalhe também serviu de argumento contra as vozes que pregavam minha retirada [...] o quase nu, cuja indecência a bandeira, ambiguidade, dissimula e atesta (SANTOS,1999 p.14).

         Com a expansão da cidade, a Estação Ferroviária deixou de ser o portão da cidade e, por um determinado tempo, a estátua deixou de ser percebida na sua totalidade pelas pessoas que por ali circulavam. Hoje o espaço é parte do circuito cultural de Belo Horizonte. Recebe pessoas de todas as partes da cidade e de outros locais. O monumento que atualmente se abre em histórias pode também se abrir para o desconhecido, para um novo olhar sobre o mesmo monumento, Terra Mineira.[2] 
         No que se refere a forma, o conjunto escultural Terra Mineira é composto de várias subunidades. As mais evidentes correspondem ao volume da forma figurativa do humano e o volume da forma geometrizada da base, em movimentos e ritmos contrastantes. 
         O movimento da forma masculina é muito forte, enfatizado pelos braços e pernas que, para Gomes (2000 p. 68), “a sensação do movimento dinâmico reflete, sobretudo de maneira muito intensa, mobilidade e ação”. Já na base, o movimento é percebido pela repetição das figuras retangulares na horizontalidade, verticalidade e diagonalidade em ritmos expressivos.
         Conforme esclarece Gomes (2000 p. 69), “o ritmo é um movimento que pode ser caracterizado como um conjunto de sensações de movimentos encadeados ou de conexões visuais ininterruptas, na maioria das vezes, uniformemente contínuas ou sequenciais ou semelhantes ou, ainda, alternadas”.
         Assim as duas subunidades que se contrastam nas suas formas, nos seus volumes, nos movimentos e nos ritmos mantêm um denominador comum, capaz de unificar o conjunto como um todo, harmônico e equilibrado.



[1] Montanheiros (são) sempre livres.
[2] A Praça da Estação, com a implantação do Museu de Artes e Ofícios, contribuiu para o processo de revitalização de toda a região central da cidade, consolidada como um polo cultural.

Um comentário:

  1. Montanheses Sempre Livres, e não montanheitos.
    Aliás, esse não é o dístico da bandeira dos inconfidenteseus?

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